Paulo Avelino
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Uma moeda de cobre de 1699
Uma moeda de cobre abre a minha pequena coleção – é a mais antiga
datada que possuo. A moeda de XX réis de 1699 tem sua beleza: letra monetária
de quatro letras P envoltas em quatro crescentes, a inscrição Moderato
Splendeat Usu (Brilhará com usos moderado) e na outra face a informação do soberano,
PETRUS II D.G. PORTVG. R.DAETHIOP (Pedro II pela graça de Deus Rei de Portugal
e da Etiópia).
O passado [dizem] é um país
que não existe. Ou, se existe, ao menos é distante. Os selos e moedas diminuem
[podem diminuir] essa distância que se metamorfoseia em estranheza.
O bimetalismo
Voltemos a um tempo em que as
cédulas quase não existiam. Existiam quase que só as moedas. Essas tinham um
valor intrínseco, ou seja, o metal do qual eram feitas tinha valor. E também [é
claro] possuíam um valor extrínseco, ou seja, o seu valor de face. No caso da
minha moeda, XX réis. A quantidade de dinheiro em um país dependia portanto da
quantidade de metal precioso que nele havia.
Por metal precioso entenda-se
quase que sempre ouro e prata. Daí bimetalismo.
Tal sistema gerava problemas
muitos. Os reis tinham a trabalhosíssima
tarefa de regular o valor intrínseco e o valor extrínseco. Senão:
·
se o valor do metal se tornasse maior que o valor
de face da moeda, as pessoas simplesmente fundiriam a moeda para vender o
metal;
·
se o valor de face fosse muito maior que o valor
do metal, havia um enorme estímulo à falsificação (lembremos que estávamos em
um tempo sem polícia organizada, nem fichários computadorizados com informações
sobre todos os cidadãos, nem análises informatizadas da composição metálica de
uma moeda).
O bimetalismo armou uma bomba-relógio
monetária, pois a moeda, fator essencial à circulação econômica, nesse sistema
dependia de fatores fora de muito controle, como os fluxos de metal em relação
ao exterior, e, pior ainda, a descoberta de minas, as quais, na Europa,
caminhavam para o esgotamento. E as economias cresciam, reclamando mais moedas.
As queixas de falta de dinheiro se generalizavam.
Os reis de Espanha (com a prata
de Potosí) e de Portugal (com o ouro das Minas Gerais) soltaram foguetes com a
descoberta desses metais, já sabemos o porquê. Se não usaram esses metais para
desenvolver seus países, é história outra.
Brasil – uma economia (quase) sem moeda
Todos sabemos que a economia brasileira
nos primeiros séculos dependia da escravidão. O trabalho escravo é gratuito.
Não precisando ser pago, não necessita de dinheiro. Assim, a economia
funcionava com bem pouca necessidade de dinheiro. É um fato bem estabelecido
pelos clássicos como o justamente festejado Celso Furtado, na Formação Econômica do Brasil.
No entanto, mesmo precisando de
pouco dinheiro, ainda precisava de dinheiro. E na medida em que a economia
cresceu no século XVII, as queixas de falta de moeda detonaram por toda a
colônia.
A economia europeia se contraiu
em forte recessão entre 1670 e 1680, o que não deixou de afetar o mercado do
açúcar, o principal produto da Colônia. O fluxo de metais, ou seja, a entrada
de ouro e principalmente de prata, da qual há indícios até aquele momento que
fosse positiva,
tornou-se negativa – saía mais que entrava. Isso porque os comerciantes
portugueses, que traziam produtos europeus para vender aqui, e que antes
compravam açúcar e fumo para revender na Europa, passaram a preferir levar
moedas daqui – era mais seguro diante de um mercado instável. E, lembremos, não
havia Casa da Moeda aqui. Moedas eram literalmente artigos de importação.
Aumentou a grita por moeda, na
segunda metade do século XVI, em toda a Colônia.
O Levantamento não solucionou
Os reis podiam determinar que uma
moeda fosse recarimbada e passasse a valer o valor nominal aumentado. Isso elevava
como mágica a quantidade de moeda em circulação e, se o carimbo valesse só em
um lugar específico, como a Colônia, haveria estímulo para manter a moeda no
lugar. As Câmaras Municipais berraram por todas as últimas décadas do século
XVII para que o Rei o fizesse. Algumas perderam a paciência de esperar e o
fizeram por conta própria. O Rei acabou autorizando um levantamento de dez por
cento, bem menor que o reivindicado.
O Levantamento só resolvia a
curto prazo. Com o tempo os preços subiam e a moeda escasseava de novo.
O Cobre, moeda de pobre
A maior parte da população só via
em toda sua vida as moedas de cobre. Faziam os pequenos pagamentos, os trocos e
as esmolas. Também havia na Colônia grande falta delas, agravada pelo fato de
que:
·
não se produzia cobre em Portugal; ele era
importado da Alemanha e da Inglaterra (ver artigo sobre moedas de cobre no
Reinado de Dom Pedro I, neste blogue);
·
o cobre tinha grande utilidade além de fazer
moedas; numa época de navios de madeira corroídos por crustáceos, o cobre
protegia os cascos dos navios; e os artefatos metálicos dos engenhos de açúcar,
como os panelões, eram de cobre. A produção de açúcar se recuperou um pouco na década
de 1690, o que gerou maior pressão ainda sobre o cobre para moedas.
Por que e como veio a moeda de 1699
Depois de muita pressão, o Rei Pedro
II autorizou a cunhagem de moedas de ouro e prata na Colônia. Quanto ao cobre,
nada disse. A maior circulação de moedas de maior valor puxou mais ainda a
demanda por moedas de menor valor e a solução veio de que, entre 1693 e 1699 a
Casa da Moeda do Porto cunhara moedas para Angola.
Estas se revelaram muito mais que o necessário na colônia africana, e, pela Carta
Régia de 10 de fevereiro de 1704 El-Rey as mandou circular no Brasil. Muito
tempo depois um alvará de 1809 determinou um carimbo de um escudete nas moedas para duplicar seu valor, mas
essa já é outra história.
Moedas falam, ou quase.
Lima, Fernando Carlos G. de Cerqueira. Uma
Análise Crítica da Literatura Sobre a Oferta e a Circulação de Moeda Metálica
no Brasil nos Séculos XVI e XVII. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/ee/v35n1/v35n1a06.pdf>.
Acesso em 03 fev. 2013.
Idem, ibidem.
Coelho, Rafael da Silva Coelho. Moeda e antigo sistema colonial no Brasil: final
do século XVII. Disponível em <http://www.cihe.fflch.usp.br/sites/cihe.fflch.usp.br/files/Rafael_Silva_Coelho.pdf>.
Acesso em 03 fev. 2013.
Serrano Neto, José. Moedas Brasileiras da Colônia. Disponível em <http://www.snb.org.br/boletins/pdf/54%20-%20Moedas%20Brasileiras%20da%20Col%C3%B4nia.pdf>.
Acesso em 03 fev. 2013.
AMATO, Cláudio, et alii. Livro das Moedas do Brasil: 1643 até 2012. 13ª ed. São
Paulo: ed. dos autores, 2012.432p. p218-219.
ola meu nome e marcelo e tambem tenho uma pequena colesao de moedas eu tambem tenho uma igual asua do seculo xvI
ResponderExcluirOla meu nome e geovani eu tenho uma moeda de 1699 que mihar irma achou no terreno baldiu da casa dela faz uns 5 dias que ela achou
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