domingo, 7 de julho de 2013

Selos como sintoma: a economia e a geopolítica da Ditadura Militar antes da Crise do Petróleo (1964-74) - I


O regime democrático vigente no país depois da Segunda Guerra Mundial (1946) até o Golpe Militar de 1964 desenvolveu uma política econômica que se tornou conhecida como industrialização por Substituição de Importações – ISI. Baseava-se na percepção de que os países periféricos precisavam se industrializar para alcançar o desenvolvimento econômico. As características de tal política e sua presença na filatelia foram analisadas em artigo anterior deste blog.


Em termos econômicos o Golpe representou uma continuidade e ao mesmo tempo uma ruptura com a ISI, e a colocação de novas prioridades. Tais prioridades e linhas de ação transpareceram no campo filatélico.

A doutrina do novo poder

O poder militar no Brasil não se caracterizou pelo personalismo – foram as Forças Armadas (e especialmente o Exército) enquanto instituição que assaltaram a máquina do Estado. Não houve um Perón brasileiro. À falta de um grande líder, os novos donos do poder para justificar seu domínio basearam-se em um conjunto de ideias que vinha sendo desenvolvido desde o final dos anos 1940 e que ficou conhecido como Doutrina de Segurança Nacional.

Esta Doutrina tinha como eixo o binômio Segurança e Desenvolvimento. O Brasil deveria permanecer firme dentro do campo do Ocidente, tipo como oposto à ameaça comunista. E ao mesmo tempo deveria promover seu desenvolvimento. O Desenvolvimento seria possibilitado pela Segurança e reforçaria a mesma.

O conjunto de selos Exército brasileiro - fator de segurança e desenvolvimento nacional (08/1969) ilustra o pensamento do poder militar. Os Correios os lançaram no Dia do Soldado (25 de agosto) em uma conjuntura política difícil – a Ditadura colocara o Congresso em recesso desde o ano anterior. A censura à imprensa impedia manifestações da oposição. A hipertensão arterial acossava o Presidente Marechal Costa e Silva e em poucos dias o levaria a um acidente vascular cerebral e à saída do poder.

Segurança e Desenvolvimento era a doutrina e de maneira quase didática um dos selos é dedicado à Segurança e o outro ao Desenvolvimento. No selo da Segurança é bastante claro quem a proverá – trata-se do Exército. O selo representa o território nacional metade em verde e outra em amarelo com um fundo azul – o patriotismo literalmente ocupando o território, este imerso em uma cor de vibração otimista. E no centro de uma das metades o símbolo da Força de Terra.

O segundo selo (que representa o Desenvolvimento) traz uma imagem de uma obra de arte de uma ferrovia e o dístico Exército Brasileiro – Fator de Desenvolvimento Nacional. A escolha de uma ferrovia é significativa para a política econômica e para a geopolítica da Ditadura – pois ela privilegiou a ocupação do espaço de forma modernizante e conservadora e tendo os transportes como um dos eixos, como veremos na sequência neste blog.

Bibliografia:
BECKER, Bertha, e EGLER, Claudio. Brasil: uma nova potência regional na economia-mundo. 6ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010. 267p. p126-130.






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