Paulo Avelino
A produção de selos da Nova República
trouxe novos temas para a pauta filatélica, os quais antes se encontravam proscritos
no todo ou em parte. Se entendermos os selos como cartões de visita do Estado, podemos
perceber na época um esforço para o poder estatal se reformular, buscando uma
nova relação com a sociedade.
Personalidades até então proscritas
O novo poder civil lançou selos
homenageando pessoas que, por seu papel político e cultural, tinham sido ignoradas
pela Ditadura Militar. Logo no segundo ano do novo regime este emitiu o selo Homenagem ao Presidente Juscelino Kubitschek
(1902-1976) (8/1986), prócer do regime político derrubado pela ditadura e marginalizado
por esta.
No mesmo ano os Correios
celebraram um intelectual contestador típico dos anos 1960, lançando o selo Homenagem a Glauber Rocha, Cineasta (1939-1981)
(11/1986). O Estado sempre homenageara artistas com selos, mas nunca
aqueles com uma postura anticonvencional na política e na estética, caso do
artista baiano.
Presença de entidades e movimentos
A Nova República celebrou movimentos
organizados que, em princípio, contestavam o status quo. É curiosa tal nova postura do poder: em vez da defesa
fechada da sociedade atual, o poder, apesar de poder, se arvorou como aliado de
atores que queriam mudar a sociedade. Isso ocorreu tanto quanto a atores atuais
como através da homenagem a tais movimentos no passado. Na filatelia, isso
ocasionou o lançamento do selo 15 anos
do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (7/2000) e também do Centenário do Fim da Guerra dos Canudos
(9/1997).
Atividades pouco convencionais
A Nova República reformulou o
conceito de homenagem aos esportes, deslocando-se da tradicional escolha de
esportistas vencedores de competições internacionais para incluir também modalidades
pouco ortodoxas. Sintomática é a série Esportes
Radicais (6 a 8/2000) que celebrou o Alpinismo, a Asa Delta, o Skate e o
Surf. Com exceção do primeiro, trata-se de esportes praticados especialmente
por adolescentes de perfil em geral pouco condizente com a postura rígida que o
Estado até então preconizara a seus heróis.
Presença pequena da Economia
A política econômica também se
fez marcada. O selo 1º Aniversário do
Real (7/1995) e o Mercosul (7/1997)
celebraram iniciativas neste campo. Trata-se porém de uma presença discreta em
relação ao período de 1955 a 1985.
Conclusão
Os paradigmas da produção filatélica
da Nova República mudaram
muito em relação aos da Ditadura Militar. Valorizaram-se temas, autoridades e movimentos sociais até então ignorados ou proscritos.
A estratégia econômica quedou
menos evidente na filatelia. Como se o novo poder não quisesse homenagear nos
selos a ação estatal no rumo do desenvolvimento. Claro, uma das possíveis
explicações para isso é que tal ação não existia, substituída pelas esperanças
de que o mercado funcionasse por si mesmo. Homenagens filatélicas não aconteceram,
pela razão de que não haveria mesmo o que homenagear.
Bibliografia:
CERVO, Amado Luiz, e BUENO, Clodoaldo. História da política
exterior do Brasil. 3ª ed. ampliada. Brasília: Editora Universidade de Brasília,
2008. 559p. p457-462.
SOUZA, Helder Cyrelli de. Os Cartões
de Visita do Estado: a emissão de selos postais e a Ditadura Militar
Brasileira. Disponível em <http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/15006>.
Acesso em 29 jun 2014.
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