Paulo Avelino
Assinatura de Landry Salles |
Major Landry Salles |
Um Brasil mais ingênuo [e possivelmente
mais pretensioso] é o que mostram os selos da Série da Vitória, uma coleção de cinco peças encartadas em um
folheto com baixos-relevos e folha de explicações emitida pelo Departamento dos
Correios e Telégrafos em 1945. A pretensão talvez não fosse só do país.
Comprei-a no leilão da Sociedade Numismática e Filatélica Cearense e dei pulos
de alegria: na segunda página vi em elegantíssima caligrafia de
caneta-tinteiro: Aprovo. Em 8/5/945. Landry
Sales. Era o Diretor do DCT.
Alegria curta. Longe de ser o exemplar
único que pensava, uma busca no Diário Oficial revelou que meu folheto era um
entre 70 mil – das quais 30 mil em português. Com assinatura aparentemente
única e tudo.
Landry Sales Gonçalves lembra uma
época em que o país pertencia aos oficiais de baixa patente. Nascido no Ceará,
nos seus vinte e seis anos a chamada Revolução de Trinta chutou carcomidas
estruturas de poder e colocou os tenentes como ele no lugar. Tornou-se interventor
no estado do Piauí no qual teve o poder por vários anos. Nunca deixou de ser
militar e pouco depois atingiu o posto máximo no DCT.
O DCT na explicação do primeiro
selo (Saudade) reivindicava pioneirismo:
afirmava que pela primeira vez a palavra “saudade”
é inscrita num selo, o que a tornará, dagora em diante, universalmente
conhecida. Pode-se ver ao fundo a Igreja da Glória, no Rio de Janeiro.
O selo da Glória mostra um soldado da Divisão de Infantaria que o país enviou
para a Frente italiana.
Os filmes há muito nos
bombardeiam com a ideia de que o resultado da guerra deveu-se à bravura de
louros estadunidenses com alguma vaga ajuda de ingleses bigodudos. O selo Vitória atesta que muitos países deram
dinheiro e vidas para isso: veem-se nele as bandeiras de vitoriosos quase
esquecidos como União Soviética, França e China - a qual hoje poucos lembram
como atuante.
O selo Paz mostra uma austera senhora de barrete frígio a dividir o selo
entre indústrias e campos cultivados – estes últimos talvez não por acaso a
lembrar um cafezal.
O selo Cooperação mostra a rota de suprimentos da aviação aliada, ligando
os centros industriais dos Estados Unidos ao resto do mundo pelo chamado Corredor da Vitória. A pequena autonomia
dos aviões da época os obrigava a múltiplas paradas até o Oriente Médio: Miami,
Porto Príncipe (Haiti), Porto Rico, Trinidad e Tobago, Georgetown (na então Guiana
Inglesa), Belém, Fortaleza, Natal, ilha de Ascensão, Acra (hoje em Gana), Cartum
(Sudão), e finalmente o Cairo no Egito. Pouco se lembra hoje da participação
dos aeroportos do Nordeste do Brasil em tal esforço.
Um país menor, sem dúvida – no qual
oficiais de baixa patente podiam governar imensos estados. Também cioso de sua
importância – colocando-se quase em pé de igualdade com as hiperpotências em
suas querelas bélicas. A Série da Vitória
nos traz um Brasil mais ingênuo, possivelmente mais pretensioso, e talvez
possamos dizê-lo – mais feliz.
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Bibliografia:
Wikipedia pt. Landry Sales Gonçalves. Disponível
em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Landry_Sales_Gon%C3%A7alves#Governo_no_Piau.C3.AD>.
Acesso em 07 fev 2015.
Diário Oficial da União de 13/07/1945. Disponível em <http://www.jusbrasil.com.br/diarios/2426269/pg-33-secao-1-diario-oficial-da-uniao-dou-de-13-07-1945>.
Acesso em 07 fev 2015.
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