sábado, 7 de fevereiro de 2015

Guerreira Euforia - Os selos da “Série da Vitória”

Paulo Avelino


Departamento dos Correios e Telégrafos - DCT
Assinatura de Landry Salles
Major Landry Salles Gonçalves
Major Landry Salles
Um Brasil mais ingênuo [e possivelmente mais pretensioso] é o que mostram os selos da Série da Vitória, uma coleção de cinco peças encartadas em um folheto com baixos-relevos e folha de explicações emitida pelo Departamento dos Correios e Telégrafos em 1945. A pretensão talvez não fosse só do país. Comprei-a no leilão da Sociedade Numismática e Filatélica Cearense e dei pulos de alegria: na segunda página vi em elegantíssima caligrafia de caneta-tinteiro: Aprovo. Em 8/5/945. Landry Sales. Era o Diretor do DCT.

Alegria curta. Longe de ser o exemplar único que pensava, uma busca no Diário Oficial revelou que meu folheto era um entre 70 mil – das quais 30 mil em português. Com assinatura aparentemente única e tudo.

Série da Vitória - Selo da CooperaçãoLandry Sales Gonçalves lembra uma época em que o país pertencia aos oficiais de baixa patente. Nascido no Ceará, nos seus vinte e seis anos a chamada Revolução de Trinta chutou carcomidas estruturas de poder e colocou os tenentes como ele no lugar. Tornou-se interventor no estado do Piauí no qual teve o poder por vários anos. Nunca deixou de ser militar e pouco depois atingiu o posto máximo no DCT.

Série da Vitória - Selo da SaudadeO DCT na explicação do primeiro selo (Saudade) reivindicava pioneirismo: afirmava que pela primeira vez a palavra “saudade” é inscrita num selo, o que a tornará, dagora em diante, universalmente conhecida. Pode-se ver ao fundo a Igreja da Glória, no Rio de Janeiro.

O selo da Glória mostra um soldado da Divisão de Infantaria que o país enviou para a Frente italiana.
Os filmes há muito nos bombardeiam com a ideia de que o resultado da guerra deveu-se à bravura de louros estadunidenses com alguma vaga ajuda de ingleses bigodudos. O selo Vitória atesta que muitos países deram dinheiro e vidas para isso: veem-se nele as bandeiras de vitoriosos quase esquecidos como União Soviética, França e China - a qual hoje poucos lembram como atuante.
Série da Vitória - Selo da Glória


O selo Paz mostra uma austera senhora de barrete frígio a dividir o selo entre indústrias e campos cultivados – estes últimos talvez não por acaso a lembrar um cafezal.

Série da Vitória - Selo da PazO selo Cooperação mostra a rota de suprimentos da aviação aliada, ligando os centros industriais dos Estados Unidos ao resto do mundo pelo chamado Corredor da Vitória. A pequena autonomia dos aviões da época os obrigava a múltiplas paradas até o Oriente Médio: Miami, Porto Príncipe (Haiti), Porto Rico, Trinidad e Tobago, Georgetown (na então Guiana Inglesa), Belém, Fortaleza, Natal, ilha de Ascensão, Acra (hoje em Gana), Cartum (Sudão), e finalmente o Cairo no Egito. Pouco se lembra hoje da participação dos aeroportos do Nordeste do Brasil em tal esforço.

Série da Vitória - Selo da Vitória


Um país menor, sem dúvida – no qual oficiais de baixa patente podiam governar imensos estados. Também cioso de sua importância – colocando-se quase em pé de igualdade com as hiperpotências em suas querelas bélicas. A Série da Vitória nos traz um Brasil mais ingênuo, possivelmente mais pretensioso, e talvez possamos dizê-lo – mais feliz.

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Bibliografia:

Wikipedia pt. Landry Sales Gonçalves. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Landry_Sales_Gon%C3%A7alves#Governo_no_Piau.C3.AD>. Acesso em 07 fev 2015.

Diário Oficial da União de 13/07/1945. Disponível em <http://www.jusbrasil.com.br/diarios/2426269/pg-33-secao-1-diario-oficial-da-uniao-dou-de-13-07-1945>. Acesso em 07 fev 2015.

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