Paulo Avelino
A nota de cem marcos de primeiro
de novembro de 1920 se coloca dentro da evolução da moeda alemã. Evolução esta
que começou com a criação da nova moeda, o marco, logo depois do surgimento do
Império Alemão em 1871. O novo padrão monetário substituía dezenas de moedas de
reinos e cidades livres que então constituíam o território no centro da Europa.
Quatro anos depois, em 1875, o
novo Estado fundou o Reichsbank, o
Banco do Império, o banco emissor principal. Como virtualmente todas as moedas
da época, o marco ou Reichsmark era
conversível em ouro – ou seja, teoricamente o portador da nota poderia
apresentar-se ao banco e receber seu equivalente em gramas do metal.
Nas décadas seguintes as
potências europeias se envolveram em corrida armamentista e a Alemanha cresceu
muito como poder industrial.
Até que em agosto de 1914
estourou uma guerra, que ficaria conhecida como Primeira Guerra Mundial. O
governo alemão imediatamente suspendeu a conversibilidade da moeda. Quanto às
despesas da guerra, o governo decidiu financiá-las inteiramente com
empréstimos. Não aumentou nem criou impostos. Em contraste, a Franca criou o
imposto de renda exatamente para financiar a guerra.
E a Alemanha perdeu a guerra em
novembro de 1918. Então a estratégia adotada mostrou seu lado negativo – o
governo se viu atolado em dívida. Além disso os vencedores no Tratado de
Versalhes impuseram pagamento de reparações – o que aumentou ainda mais os
problemas.
As reparações só podiam ser pagas
em moeda estrangeira. Para comprá-la, o novo governo alemão usava notas de
marcos. O problema é que o governo começou a emitir cada vez mais marcos, e
estes passaram a diminuir de valor.
A nossa nota data exatamente
desse ponto. No seu alto temos a inscrição RBD, Reichsbankdirektorium
– a diretoria do banco central, com as assinaturas dos diretores também na
nota. Temos o valor Hundert Mark (cem
marcos) e imediatamente abaixo um aviso de que a caixa central do banco em
Berlim deve pagar por esta nota o valor equivalente. Esse aviso era típico das
moedas conversíveis. Sobre o selo do Diretório vê-se Mercúrio, o deus do
comércio.
No verso, o numeral cem aureolado
por um aviso de que qualquer imitação ou falsificação será punida com pelo
menos dois anos na penitenciária.
Essa nota em pouco tempo passou a
valer muito pouco. As emissões acionaram uma espiral inflacionária com os
preços a disparar e o governo a emitir mais ainda. Quando foi impressa essa
nota valia mais de um dólar. Dois anos depois eram necessárias noventa delas para
comprar o mesmo dólar. Mas isso nada seria em relação ao que veio depois: no
dia 11 de novembro de 1923 eram necessários quatro trilhões e duzentos bilhões
de marcos para comprar um dólar.
A inflação desapareceu quase do
dia para a noite com introdução de nova moeda, o Rentenmark. Mas a crise deixou problemas sociais fundos, os quais
vieram a facilitar a ascensão do nazismo, anos depois.
A nota é uma pequena parte dessa
história.
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Bibliografia:
Deutsche
Bundesbank. First German 100 Mark note. Disponível em <https://www.bundesbank.de/Redaktion/EN/Standardartikel/Bundesbank/Coin_and_banknote_collection/first_german_100_mark_note.html>
. Acesso em 08 Julho 2017.
Wikipedia. Hyperinflation in the Weimar Republic. Disponível
em <https://en.wikipedia.org/wiki/Hyperinflation_in_the_Weimar_Republic>.
Acesso em 08 Julho 2017.
Values
of the most important German Banknotes of the Inflation Period from 1920 – 1923. Disponível em <http://www.sammler.com/coins/inflation.htm>.
Acesso em 08 Julho 2017.
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