domingo, 3 de setembro de 2017
As chancelas no nosso papel-moeda
Athos Camargo
(da Associação
Filatélica e Numismática de Brasília - AFNB)
Em virtude de serem bem comuns ou
bem recentes os colecionadores de cédulas brasileiras estão acostumados a
encontrar e classificar o nosso papel-moeda em apenas dois grupos: cédulas
autografadas e cédulas com microchancelas.
No primeiro caso, após todo o
processo de fabricação, funcionários do órgão responsável pela emissão (mais
comumente da Caixa de Estabilização) assinavam as cédulas uma a uma, ou seja,
autografavam as cédulas. A partir de 1953 e até os dias atuais as cédulas
trazem impressas, em tamanho reduzido, as assinaturas das autoridades
monetárias da época da emissão, daí o termo “microchancela”.
No entanto existe uma terceira
possibilidade, a chancela. Vejam a definição existente à página 12 do catálogo
Cédulas do Brasil de Irlei, Amato e Shütz:
“Chancela: em algumas cédulas do
padrão “Mil Réis”, notadamente nas do Quarto Banco do Brasil, ao invés de
autógrafos, foram elaboradas chancelas das autoridades da Caixa de Amortização
que foram impressas em tamanho natural no anverso das cédulas.”
É fácil identificar a diferença
entre chancelas e autógrafos. Via de regra, nas primeiras é possível
identificar o nome ou parte dele, enquanto nos últimos vê-se letras
incompreensíveis. As chancelas se posicionam em linha reta, ou acima e abaixo
na região central da cédula, ou à esquerda e à direita na parte inferior do
anverso. Outro ponto interessante é que os autógrafos muitas vezes marcavam o
reverso da cédula, por conta da tinta fresca, o que não acontecia com as
chancelas, as quais eram impressas.
A consulta ao catálogo Cédulas do
Brasil aponta 37 cédulas com chancelas.
ordem do catálogo
|
Órgão emissor
|
ordem do catálogo
|
Órgão emissor
|
|||||
1
|
R072b
|
1894
|
Tesouro Nacional
|
20
|
R188
|
1927
|
Caixa de Estabilização
|
|
2
|
R074b
|
1892
|
Tesouro Nacional
|
21
|
R189
|
1927
|
Caixa de Estabilização
|
|
3
|
R110b
|
1930
|
Tesouro Nacional
|
22
|
R190
|
1927
|
Caixa de Estabilização
|
|
4
|
R119b
|
1930
|
Tesouro Nacional
|
23
|
R191
|
1923
|
Banco do Brasil
|
|
5
|
R126b
|
1915
|
Tesouro Nacional
|
24
|
R193b
|
1923
|
Banco do Brasil
|
|
6
|
R141b
|
1929
|
Tesouro Nacional
|
25
|
R194b
|
1923
|
Banco do Brasil
|
|
7
|
R149a
|
1916
|
Tesouro Nacional
|
26
|
R195b
|
1923
|
Banco do Brasil
|
|
8
|
R162b
|
1930
|
Tesouro Nacional
|
27
|
R196
|
1923
|
Banco do Brasil
|
|
9
|
R163a
|
1931
|
Tesouro Nacional
|
28
|
R197a
|
1923
|
Banco do Brasil
|
|
10
|
R178
|
1926
|
Caixa de Estabilização
|
29
|
R198
|
1923
|
Banco do Brasil
|
|
11
|
R179
|
1926
|
Caixa de Estabilização
|
30
|
R199
|
1923
|
Banco do Brasil
|
|
12
|
R180
|
1926
|
Caixa de Estabilização
|
31
|
R200
|
1923
|
Banco do Brasil
|
|
13
|
R181
|
1926
|
Caixa de Estabilização
|
32
|
R201
|
1923
|
Banco do Brasil
|
|
14
|
R182
|
1926
|
Caixa de Estabilização
|
33
|
R202
|
1923
|
Banco do Brasil
|
|
15
|
R183
|
1926
|
Caixa de Estabilização
|
34
|
R203a
|
1930
|
Banco do Brasil
|
|
16
|
R184
|
1927
|
Caixa de Estabilização
|
35
|
R204a
|
1930
|
Banco do Brasil
|
|
17
|
R185
|
1927
|
Caixa de Estabilização
|
36
|
R205a
|
1930
|
Banco do Brasil
|
|
18
|
R186
|
1927
|
Caixa de Estabilização
|
37
|
R206
|
1930
|
Banco do Brasil
|
|
19
|
R187
|
1927
|
Caixa de Estabilização
|
Alguns exemplos:
R 072b
Antônio Arnaldo Vieira da Costa –
Tesoureiro da Caixa de Amortização
R 193b
Ildefonso Simões Lopes – Diretor da
Carteira de Agências do Banco do Brasil
R 184
Francisco de Carvalho Soares
Brandão Filho - Diretor da Caixa de
Amortização
R205a
Augusto Mário
Caldeira Brandt – Presidente do Banco do Brasil
Em face do exposto, parece justo
propor que os catálogos de cédulas brasileiras dispensassem às chancelas
(nessas poucas 37 cédulas) o mesmo tratamento que recebem as microchancelas,
identificando as autoridades monetárias e, nos casos em que uma mesma cédula
apareça com diferentes chancelas, que lhe sejam atribuídos diferentes códigos
de catálogo conforme o conjunto de assinaturas impressas.
Brasília, julho de 2017
sábado, 19 de agosto de 2017
O código de controle existente nas cédulas do Real
Athos Camargo
(da Associação Filatélica e Numismática de Brasília - AFNB)
No site do
Banco Central existe farta informação acerca da segunda família. São mostradas
em detalhes as características de cada cédula enfatizando aquelas relacionadas
à segurança. Entretanto, nem todos os elementos foram mencionados. Dois deles
se destacam pela falta de informação: quanto à numeração das cédulas o BCB se
limita a dizer que não existe numeração repetida, cada cédula é única; já em
relação ao código que é visto em tipos bem pequenos entre a inscrição “Deus
seja louvado” e a marca tátil, não há nenhuma menção.
Nas figuras
abaixo pode-se ver exemplos em cada um dos valores disponíveis:
O código sempre apresenta a mesma
estrutura de seis posições: uma letra, três algarismos, uma letra e um
algarismo. Estas letras e algarismos encerram três informações distintas. Vamos
a elas:
1)
A primeira letra está relacionada ao valor da
cédula:
B = R$ 2,00, C = R$ 5,00, D = R$ 10,00, E = R$ 20,00, F = R$
50,00 e G = R$ 100,00.
Obs: A cédula de R$ 2,00 produzida pela empresa sueca CRANE AB foge à
regra pois traz como primeira letra um “Y”. Como a segunda letra da numeração das
cédulas suecas é um “Z” (no DZ), também fugindo completamente ao padrão
utilizado para as demais cédulas, talvez, propositadamente, tenham sido escolhidas
as duas últimas letras do alfabeto para figurar na cédula produzida no exterior
(“Y” para o código e “Z” na numeração).
2)
Os três algarismos a seguir crescem conforme a
emissão das cédulas (começando sempre em 001) e muito provavelmente estão
relacionados à chapa de impressão, a qual, após milhões e milhões de impressões
precisa ser trocada. Por isso as cédulas com
letras AA, as primeiras impressas, serão sempre 001 e não existe uma quantidade
padronizada para passar do 001 ao 002, do 002 ao 003 e assim por diante pois o
desgaste das placas não é sempre igual se considerarmos a quantidade de cédula
produzidas de cada valor facial. Isto pode ser explicado pela quantidade de
exemplares existente em cada folha. Exemplificando: observando as quantidades e
códigos das cédulas de R$ 2,00 depreende-se que o incremento se dá,
aproximadamente, a cada 130 milhões de cédulas (emitidas). Já nas cédulas de R$
50,00 a variação ocorreria a cada 95 milhões de cédulas (valor aproximado).
Como nas folhas inteiras de R$ 2,00 cabem 60 cédulas cada chapa de impressão
produziria aproximadamente 2.166.666 folhas. Nas folhas de R$ 50,00 cabem 45
cédulas, o que daria 2.111.111 folhas. A quase coincidência entre estes valores
reforça a tese.
Obs: A cédula de R$ 2,00 produzida pela empresa sueca CRANE AB foge à
regra pois a numeração foi reiniciada. Os três números indicadores da chapa de
impressão voltaram ao 001. Isto se explica por se tratar de outra casa
impressora.
3)
As duas últimas posições do código, ou seja, o
par constituído por uma letra e um número, indicam a posição ocupada pela
cédula na folha inteira antes do corte.
(O então Ministro Mantega exibe uma folha de 50
reais, no lançamento da 2ª família, em dezembro de 2010 )
A letra corresponde à linha e o número à coluna. Devido às
características da impressão, corte e embalagem, em uma centena lacrada pela
casa impressora todas as cédulas terão o mesmo código de impressão.
Em virtude das
dimensões das cédulas existem três diferentes quantidades de cédulas por folha,
situação que afeta diretamente a questão dos códigos, vejam:
Nas folhas de R$ 2,00
reais acomodam-se 60 cédulas, são 10 linhas e 6 colunas. Para R$ 5,00, R$ 10,00
e R$ 20,00 temos 10 linhas (essas cédulas tem a mesma altura das de R$ 2,00) e
5 colunas, o que resulta em 50 cédulas por folha. Nas folhas das cédulas
maiores, R$ 50,00 e R$ 100,00 cabem apenas 45 cédulas, 9 linhas e 5 colunas.
A
letra “i” nunca foi utilizada no código. Na disposição das linhas passa-se
diretamente do H para o J, resultando no seguinte:
Para
as cédulas de R$ 2,00: A1 a A6, B1 a B6, C1 a C6, D1 a D6, E1 a E6, F1 a
F6, G1 a G6, H1 a H6, J1 a J6 e K1 a K6.
Para as cédulas de R$ 5,00, R$
10,00 e R$ 20,00: A1 a A5, B1 a B5, C1 a C5, D1 a D5, E1 a E5, F1 a F5, G1
a G5, H1 a H5, J1 a J5 e K1 a K5.
Para as cédulas de R$ 50,00 e R$
100,00: A1 a A5, B1 a B5, C1 a C5, D1 a D5, E1 a E5, F1 a F5, G1 a G5, H1 a
H5 e J1 a J5.
A utilização das tabelas abaixo
permite descobrir o par alfanumérico do código a partir da numeração da cédula.
A acurácia das tabelas foi comprovada empiricamente em mais de 95% das cédulas
da minha coleção. Experimente!
Para as
cédulas de R$ 2,00
Passo 1 - Divida
o número da cédula por 6.000
Passo 2 - Arredonde o quociente para o inteiro superior
Passo 3 - Multiplique o valor arredondado por 6.000
Passo 4 - Subtraia o número da célula do produto encontrado no Passo 3
Passo 5 - Verifique em qual dos intervalos da tabela abaixo a diferença da subtração se encaixa
Passo 2 - Arredonde o quociente para o inteiro superior
Passo 3 - Multiplique o valor arredondado por 6.000
Passo 4 - Subtraia o número da célula do produto encontrado no Passo 3
Passo 5 - Verifique em qual dos intervalos da tabela abaixo a diferença da subtração se encaixa
Para as
cédulas de R$ 5,00, R$ 10,00 e R$ 20,00
Passo 1 - Divida o número da cédula por 5.000
Passo 2 - Arredonde o quociente para o inteiro superior
Passo 3 - Multiplique o valor arredondado por 5.000
Passo 4 - Subtraia o número da célula do produto encontrado no Passo 3
Passo 5 - Verifique em qual dos intervalos da tabela em anexo a diferença da subtração se encaixa
Passo 1 - Divida o número da cédula por 5.000
Passo 2 - Arredonde o quociente para o inteiro superior
Passo 3 - Multiplique o valor arredondado por 5.000
Passo 4 - Subtraia o número da célula do produto encontrado no Passo 3
Passo 5 - Verifique em qual dos intervalos da tabela em anexo a diferença da subtração se encaixa
Para as cédulas de R$ 50,00 e R$ 100,00
Passo 1 - Divida o número da cédula por 4.500
Passo 2 - Arredonde o quociente para o inteiro superior
Passo 3 - Multiplique o valor arredondado por 4.500
Passo 4 - Subtraia o número da célula do produto encontrado no Passo 3
Passo 5 - Verifique em qual dos intervalos da tabela em anexo a diferença da subtração se encaixa
Passo 2 - Arredonde o quociente para o inteiro superior
Passo 3 - Multiplique o valor arredondado por 4.500
Passo 4 - Subtraia o número da célula do produto encontrado no Passo 3
Passo 5 - Verifique em qual dos intervalos da tabela em anexo a diferença da subtração se encaixa
A cédula de R$ 100,00 com a numeração DA101961296 ostenta o código G010C1
Passos para chegar ao par final - C1
1) 101.961.296 dividido por 4.500 é igual a 22.658,07
Passos para chegar ao par final - C1
1) 101.961.296 dividido por 4.500 é igual a 22.658,07
2) O próximo
inteiro é 22.659
3) 22.659 multiplicado por 4.500 é igual a 101.965.500
4) 101.965.500 menos 101.961.296 é igual a 4.204
3) 22.659 multiplicado por 4.500 é igual a 101.965.500
4) 101.965.500 menos 101.961.296 é igual a 4.204
5) Verificando
na tabela acima 4.204 se encaixa no intervalo 4201 ≥ X ≥ 4300 que indica que o
código é o C1
Abaixo fotos da cédula sueca de
R$ 2,00
Obs: a sistemática do código de controle guarda similaridade
com o existente nas cédulas do Euro.
Artigo elaborado por Athos Camargo. Associado à AFNB. Brasília, julho de 2017
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