domingo, 29 de setembro de 2013

Selos como sintoma: a economia e a geopolítica da Ditadura Militar depois da Crise do Petróleo (1974-85) – I/II


A política econômica e a visão geopolítica dos novos donos do Poder depois do golpe militar de 1964 transpareceram nos lançamentos de selos. Em outros artigos deste blog já vimos como a prioridade para as comunicações; a necessidade de integração nacional; a nacionalização da segurança e a doutrina da Segurança e do Desenvolvimento marcaram presença na filatelia (1, 2 e 3).

Os selos também marcaram a continuidade da política de substituição de importações do período anterior (1946-1964), seu esforço industrializante e seus gargalos na produção e na exportação.

Selo Preservação de Recursos Econômicos - 1976Nesta série de dois artigos enfocaremos um segundo capítulo da Ditadura e seu reflexo nos lançamentos de selos, no que se refere à economia e à geopolítica.

O Choque do Petróleo

O forte crescimento da economia brasileira de 1968 a 1973 baseava-se, entre outros fatores, em uma conjuntura internacional favorável. O produto mundial crescia e com ele a procura por produtos brasileiros. O modelo de industrialização e de transportes adotado desde antes da Ditadura mas consolidado por esta se fundamentava no uso extensivo de derivados de petróleo como combustível. A produção nacional de petróleo era no entanto pouco significante. O país dependia, para continuar funcionando, de um fluxo de petróleo que era basicamente importado.

Selos Alternativas Energéticas - 1980



Esse ponto fraco evidenciou-se quando uma confusa conjuntura política no Oriente Médio ocasionou a quadruplicação dos preços do petróleo no final de 1973. Como a necessidade do produto era grande, em pouco o país começou a sofrer de dificuldades de pagamentos externos, ou seja, as vendas externas passaram a ter problemas para cobrir as compras.

Menor dependência do petróleo

O conjunto de selos Preservação de Recursos Econômicos (1/1976) marcou, no meio filatélico, o surgimento de uma nova época em que não se podia mais confiar em um combustível fóssil barato. Com o curioso lema Sabendo usar não vai faltar, os dois selos enfatizavam a necessidade de economizar energia elétrica e combustível para os automóveis. Hoje é lugar-comum o pensamento de que é necessário utilizar sabiamente os recursos naturais, mas na época tais selos tinham pioneirismo.

Selo Indústria de Carvão de Pedra - 1980O conjunto de selos Alternativas Energéticas (1/1980) apresentou em síntese as iniciativas e as perspectivas de uma menor dependência do petróleo presentes na época. Tal conjunto homenageava o álcool, a energia solar, a energia eólica e a energia hidrelétrica. O governo já incentivava com o Proálcool tal combustível como substituto da gasolina. As energias solar e eólica, então pouco desenvolvidas, articulavam-se com a preocupação ecológica então nascente. E a energia hidrelétrica formava a base da geração elétrica do país desde os anos 50.

Outra alternativa consistia no desenvolvimento da extração do carvão nacional, que também foi objeto de incentivos governamentais, e que foi homenageada no selo Indústria de Carvão de Pedra (3/1980).

Na sequencia veremos o reflexo de outras políticas governamentais na filatelia.

Bibliografia:

ABREU, Marcelo de Paiva. A Ordem do Progresso: Cem Anos de Política Econômica Republicana (1889-1989). 11ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 1990. 445p. p295-346.

BECKER, Bertha, e EGLER, Claudio. Brasil: uma nova potência regional na economia-mundo. 6ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010. 267p. p138-144.

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