Jules Gros continuou a se declarar
presidente da República de Counani até 1891 quando morreu. Após a morte de
Jules Gros, entrou em cena Adolphe Brezet. Foi soldado na Guiana aos 26 anos e
como o antecessor era muito vaidoso. Levou o cargo a sério e emitiu os selos na
seguinte ordem:
1ª Série
em janeiro de 1893
2ª Série em junho de 1893
Correio
Oficial em agosto de 1893, com sobrecarga (6 valores)
4ª Série
em setembro de 1893 - Taxas, Registro
Em princípios de 1893
a vida em Counani volta à normalidade, e o episódio da Primeira República
parece que foi esquecido. A maioria da população, formada por brasileiros,
vivia da coleta de especiarias, da pesca nos lagos e do fabrico de grude de
peixe para um comércio manhoso. Dois garimpeiros brasileiros e naturais de Curuçá, no
Pará, os irmãos Germano e Firmino Ribeiro, após tanta procura, descobriram ouro
na bacia do rio Calçoene, em Lourenço, os ânimos passam a se acelerar mais na
região do Contestado e começa a modificar o quadro, isto causou uma verdadeira corrida sem precedentes, com
aventureiros de todas as nacionalidades invadindo a região, a população, em
poucos meses, de 600 habitantes chegou a 5 mil, só em Counani. A descoberta do referido metal
também provocou um crescimento desordenado, aumentando inclusive a violência e
os problemas de saúde em consequência pela falta de saneamento.
Sabedor do achado do ouro, o
governador da Guiana Francesa, Mr. Charvein, cuidou logo de colocar um
representante da França baseado no Amapá (àquela época vila). Assim, Eugene
Voissien é escolhido para assumir a função de delegado da região contestada,
representando os interesses da França. Com essa regalia, Voissien passa a
fiscalizar a região. facilitando assim todo o trabalho de coleta do ouro, que
era desviado para o lado francês, que se arvorava na cobrança de altas taxas de
impostos e que veio mais tarde proibir o acesso de brasileiros à área aurífera,
franqueando o direito apenas aos "crioulos" de Caiena. Esse período,
que vai de dezembro de 1893 até novembro de 1894 é, para alguns brasileiros um
período de intranquilidade, pois incontáveis vezes alguns garimpeiros foram
aprisionados por Voissien, que alegava a prática do contrabando. Outros achavam
que tais denúncias eram vazias, defendendo um pouco a imparcialidade discutida
de Charvein.
Com a situação criada por
Voissien, os amaparinos começaram a reagir e o primeiro passo foi cassar os
direitos do representante francês. Assim, a população reunida em 26 de dezembro
de 1894, depôs Voissien e criou um governo triúnviro, do qual assumiram o
cônego Domingos Maltez na presidência, tendo como vices Francisco Xavier da
Veiga Cabral e Desidério Antonio Coelho. A sugestão do Triunvirato foi de
Desidério que, escolhido no dia 10 do mesmo mês para ser o líder de um governo
independente no Amapá, sugeriu uma nova reunião para que a administração
passasse a ser exercida por três pessoas. No dia seguinte é criado o Exército
Defensor do Amapá, para tentar garantir a ordem no local. A formação do governo
triúnviro é comunicada em seguida a Belém.
Com o afastamento de Adolphe
Brézet, aventureiro que se dizia presidente de Counani, em 1894, logo outro
chamado Albert Franken passou a se arvorar presidente de Counani.
O cônego Domingos Maltez, no dia
19 de fevereiro de 1895, deixa a presidência do Triunvirato e assume, em seu
lugar, o vice, Cabralzinho. Uma das primeiras providências tomadas por Cabral
foi atender a uma carta assinada pela população de Counani relatando o
ressurgimento de Trajano na vila de Counani, Trajano continuava com suas
atitudes de perseguição aos brasileiros que se fixassem por lá, chegando até
mesmo a rasgar a bandeira brasileira e, em seu lugar, fazer tremular a
francesa, sob os acordes de Marselha.
Sem procurar instaurar qualquer
inquérito, o que era de praxe nessas situações, Cabralzinho enviou uma
guarnição a Counani para mandar intimar e prender Trajano. Foi encarregado da
missão o major Félix Antonio de Souza, que levou consigo uma proclamação
oficial do Triunvirato aos brasileiros daquele distrito.
No dia 15 de maio de 1895, uma
quarta-feira, a população adulta se encontrava nos seus afazeres diários, seja
no centro da vila, seja no campo, tomando conta do gado ou das "tarefas da
roça". Cabralzinho encontrava-se em sua casa descansando, próximo à
Igreja, pois havia chegado de madrugada de uma viagem que fizera, para atender
a uma criança doente na região dos Lagos.
Os franceses desde cedo vinham
subindo o rio Amapá Pequeno, a bordo da canhoneira Bengali, pilotada por um
brasileiro de nome Evaristo Raimundo, com 80 "gendarmes" da Legião
Estrangeira comandados pelo capitão-tenente Lunier
chegaram para obedecer às ordens do governador de Caiena, Mr. Charvein, que
queria a prisão imediata de Cabralzinho e que o levassem para Caiena, caso este
não colocasse em liberdade o "delegado" francês Trajano, que havia
sido feito prisioneiro do Exército Defensor do Amapá, uma força paramilitar
comandada por Cabralzinho.
Os invasores desembarcaram às 9
horas e foram logo em direção à residência de Cabralzinho. A casa foi cercada por uma
patrulha enquanto que outra vinha do outro lado, deixando um rastro de mortes
entre velhos, mulheres e crianças amaparinas.
As declarações do capitão Lunier
foram ouvidas com bastante clareza. Diante da negativa de Cabralzinho,
formou-se o combate. Com poucos minutos os amigos de Cabral começaram a vir. Se
Cabralzinho matou ou não Lunier com a própria pistola do gendarme francês,
agora o fato não interessa e talvez por causa da morte de seu comandante, os
franceses começaram a lutar descontroladamente, e preocupados com a baixa da maré que provocaria, com
certeza, o encalhe da embarcação, que tinha casco muito fundo, acabaram fugindo
na canhoneira. O conflito demorou
menos de duas horas, a invasão à vila de Amapá, sede do Triunvirato, deixou um
saldo de dezenas de mortos e feridos do lado brasileiro, alguns soldados do
lado francês e a morte do capitão Lunier.
No Brasil a Imprensa se movimenta
com protestos contra a pretensão do governador de Caiena, Mr. Charvein, em
pretender fuzilar os brasileiros levados prisioneiros pelos franceses. O
próprio governador de Caiena coloca como prêmio de um milhão de francos a quem
capturar vivo Cabralzinho. Em 25 de setembro de 1895, O governador Charvein,
principal responsável pelo massacre de Lunier ao Amapá em 15 de maio, é
demitido e substituído por Mr. Lamothe, que recebe autorização para devolver,
imediatamente, as bandeiras brasileiras e os prisioneiros encarcerados, para
partirem no primeiro navio a sair de Caiena.
A reação dos brasileiros e o
massacre de amapaenses ocorrido na vila apressou de uma vez a resolução do
conflito do Contestado, em 1897, com Trajano preso, José da Luz Sereja se
tornou o capitão da vila do Cunani. Ele será o interlocutor entre a delegação
francesa, designada em 1897 para participar da Comissão Mista de Administração,
e a delegação brasileira. A comissão, reunindo franceses e brasileiros, tinha a
intenção de regulamentar o contencioso do Contestado. Contudo, o rápido
crescimento da vila, a diversidade de imigrantes e a animosidade entre as
delegações francesas e brasileiras geraram problemas de convivência com
assassinatos, roubos e outros tipos de violência.
A resolução do
contencioso do Contestado, em 1900, pela arbitragem suíça, que definiu o rio Oiapoque
como limite da posse entre brasileiros e franceses, põe fim à presença oficial
dos franceses na região e na vila do Counani, mas não às relações comerciais e
à presença de moradores guianenses. Um termo de compromisso assinado no Rio de Janeiro,
em 10 de abril, pelos delegados do Brasil (Ministro Gabriel e Piza) e da
França, confiava a resolução do Contestado á arbitragem do presidente da
Confederação Suíça, Walter Hauser, e o advogado Barão do Rio Branco (José Maria
da Silva Paranhos), especialista experiente em questões de fronteiras, é
escolhido para defender o Brasil. Este encargo foi confiado, primeiramente, a
Ruy Barbosa, mas este hesitou em assumir a questão, indicando como mais
experiente que ele nesses assuntos, seu colega Barão do Rio Branco.
Após inúmeros estudos e
conferências, a sentença foi pronunciada pelo governo suíço, três anos mais
tarde, isto é; em 1º de dezembro de 1900, fixando ao Brasil a posse definitiva
da região contestada, que se situava entre o Oiapoque e o Araguari. A data de
lº de dezembro ficou consolidada como o nascimento do Amapá como parte
territorial integrativa. Fixada
a fronteira entre o Brasil e a Guiana Inglesa, mais uma vez parte do pretendido
território da Republica foi definido como brasileiro.
.Em
1901, novamente Adolphe Brézet se declara presidente de Counani em substituição
a Albert Franken.
(continua)
Boa Tarde prezado Carlos, excelente o artigo e qual muita gente não sabe da existência da história, tampouco dos selos
ResponderExcluirAbraço