domingo, 3 de agosto de 2014

Livro: O Barroco no Reinado de Dom João V

Os associados da Sociedade Numismática e Filatélica Cearense receberam hoje o livro "O Barroco no Reinado de Dom João V - Arquitetura, Moedas e Medalhas", de Fernanda Gallas e Alfrdeo Gallas, editado pelo Instituto Itaú Cultural. Trata-se de doação do referido instituto, ao qual a SNFC agradece.

Colonial Confusão – o Centavo do Estreito

Paulo Avelino



Possui na frente a austera cabeça real e a inscrição Victoria Queen. No verso o número 1, a inscrição One Cent 1895 e Straits Settlements, Colônias dos Estreitos. É antiga na minha coleção e só dei a ela alguma olhada curiosa, e o pensamento de nunca tinha ouvido falar de tais Estreitos. Revela no entanto uma história do outro lado do Planeta.

Que começou no ano de 1511 quando Afonso de Albuquerque invadiu uma cidade portuária na que hoje é conhecida como Península Malaia. Era o Governador e Capitão-General dos Mares da Índia. O porto era a cidade de Malaca. O interesse português era óbvio: a geografia da região obriga a que todo o comércio entre China e Índia, e suas áreas circunvizinhas, passe por ali. Quem dominasse a região onde o mar se estreitava teria grande poder e lucro.

A região não tinha governo unificado. Dominavam-na uns inquietos sultões malaios, sempre lutando entre si e procurando aliança com poderes coloniais para superar uns aos outros.

Em 1641 veio a Companhia das Índias Ocidentais, holandesa. Tiraram os lusitanos pela força e, tal como estes, não se ocuparam em conquistar o interior, permanecendo só em Malaca e outros enclaves no litoral. Queriam não muito território mas muito dinheiro, e este vinha cada vez mais com o crescimento da mineração de estanho no interior do país e com o crescimento dos serviços nos portos. Estimulado pelo colonizador europeu, veio um influxo cada vez maior de chineses e indianos, causando uma mistura étnica que marca a região até hoje.

O desenvolvimento do capitalismo na Europa trouxe um novo poder: os ingleses. Em 1786 colocaram um pé na região, por um tratado pelo qual certo potentado local lhe cedia um porto chamado Penang. Durante as guerras napoleônicas os ingleses ocuparam a holandesa Malaca. Depois tiveram de provisoriamente devolvê-la, e então o governador inglês procurou um novo porto para compensar a perda, e o encontrou conseguindo que outro senhor local cedesse uma ilha que daria muito o que falar: Cingapura.

A disputa entre ingleses e britânicos cessou com um tratado em 1824, e estes unificaram quatro pequenos enclaves portuários (Malaca, Penang, Cingapura e depois Dinding) em uma colônia que denominaram Colônia do Estreito.


Colônia de comércio e passagem, foi pragueada desde o começo pelo uso de moedas de muitos países, e uma das lutas dos administradores coloniais foi sempre a de unificar o meio circulante. Em 1844 o Governo da Índia autorizou a cunhagem de moedas, com a denominação de dólar, dividida em 100 centavos. O governo colonial lançou em 1871 a primeira série com inscrição Straits Settlements.

A Colônia do Estreito não mais existe. Toda a confusão de cidades-porto e sultanatos do interior, dividida entre uma população de origem indiana, malaia e chinesa se unificou em 1963 em um país chamado Malásia. Exceto Cingapura, que constituiu outro país.

Toda essa história veio dessa moedinha de cobre na palma da minha mão. E ainda dizem que moedas não falam.

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Bibliografia:

Wikipedia en. Straits Settlements. Disponível em <http://en.wikipedia.org/wiki/Straits_Settlements>. Acesso em 03 ago 2014.

Wikipedia en. History_of_Malaysia. Disponível em <http://en.wikipedia.org/wiki/History_of_Malaysia>. Acesso em 03 ago 2014.

 Wikipedia en. Straits dollar. Disponível em < http://en.wikipedia.org/wiki/Straits_dollar>. Acesso em 03 ago 2014.

Straits Settlements Coins History. Disponível em <http://www.obsoletecoin.com/2013/02/straits-settlements-coins-history.html>. Acesso em 03 ago 2014.

Wikipedia en. Afonso de Albuquerque. Disponível em <http://en.wikipedia.org/wiki/Afonso_de_Albuquerque>. Acesso em 03 ago 2014.