sábado, 9 de janeiro de 2016

OS SELOS LOCAIS BRASILEIROS POR ADOÇÃO - III

Artigo de Carlos Alberto Tavares Coutinho

A 25 de fevereiro de 1901 um decreto legislativo do governo Campos Sales incorporava o território contestado ao estado do Pará.  Mas desde 21 de janeiro o governador Pais de Carvalho decretaria a incorporação ao Estado, do território que se achava em litígio.  Para o território, que recebeu o nome de Aricari, foi enviado Egidio Leão de Sales, que em fevereiro vai ao Calçoene, onde as bandeiras estrangeiras são arriadas.
Fixada a fronteira entre o Brasil e a Guiana Inglesa em junho, mais uma vez parte do pretendido território da república (que iria até o rio Negro) foi definido como brasileiro.
Preocupado com a colonização da região, o governo do Pará, com o aval do governo brasileiro, nomeou um Conselho de Intendência, que passou a vigorar a partir do dia 30 de abril de 1902. Para isso, foram escolhidos o capitão Amaro Brasilino de Farias (presidente do Conselho) e os membros Joaquim Félix Belfort, Daniel Ferreira dos Santos e Manoel Agostinho Batista, que assumiram seus cargos respectivos no dia 15 de maio.
Em maio de 1902, Adolphe Brézet, tentando restaurar a República de Gross, começou a encaminhar ofícios à região de Counani, comunicando uma nova proclamação, e as nomeações de Félix Antonio de Souza, Antonio Napoleão da Costa e João Lopes Pereira para seu ministério.
O plano de Brézet foi imediatamente denunciado por Daniel Ferreira dos Santos ao intendente Brasilino, que baseado em farta documentação, escreveu imediatamente ao coronel João Franklin Távora que a essas alturas se encontrava em Belém. Este levou o incidente imediatamente ao conhecimento do Governo do Pará que, em seguida, instruiu o primeiro prefeito de Belém, Henrique Lopes de Barros, para ir pessoalmente, acompanhado de uma força policial de 33 praças, comandadas por um oficial, para proceder as sindicâncias necessárias.
Ao desembarcar no município de Amapá, em julho de 1902, o prefeito tratou logo de prender os ministros de Brezet que estavam reunidos na residência de Antonio Napoleão, um deles. Ali foram encontrados vários exemplares em português e francês, de propaganda e legislação da nova República de Brezet. Colocando um policiamento ostensivo em todo o município, e com a ajuda da própria população, Henrique Barros se dirigiu em seguida à vila de Counani, e conseguiu a prisão de mais dois envolvidos: José da Luz e Raimundo Rodrigues Brasil.
Todos foram encaminhados à Comarca de Aricari, na sede municipal (Amapá), e colocados à disposição da Justiça. Os inquéritos duraram 15 dias. Após sua conclusão, os revoltosos receberam umas lições de civismo, e em seguida foram colocados em liberdade.
Quanto a Brezet, ele resolveu ficar mesmo em Paris, caladinho, em recolhimento. Brézet continuou a fingir e se afligir. Mesmo assim não desistiu. Emitiu selos fiscais em outubro de 1903 e do Tesouro em janeiro de 1905, todos sem a palavra República. O dinheiro auferido com a venda destes selos foi empregada para retomar o estado de Counani.
Com apoio inglês, espanhol e colonos ele montou um exército, o pretendido presidente tentou montar uma expedição militar e em 1908 fracassou na retomada da região. Os governos de Brasil, França e Inglaterra agiram para impedi-la. Com o passar do tempo, Brézet se mudou de Paris para Londres e viveu caricatamente dando entrevistas e vendendo concessões. Para facilitar sua tarefa publicou uma série de Livres Rouges du Counani, volumes de propaganda e aberta ficção. Nele sustentava, por exemplo, ter derrotado, com pesadas baixas para os invasores, as tropas brasileiras que tentavam fazer cumprir o laudo suíço. As baixas teriam se dado não só no norte, mas até mesmo em Macapá. O Vaticano teria designado um delegado apostólico para Counani; e em agosto de 1903 teria sido firmado um acordo com as Guianas Inglesa e Francesa sobre o tráfego de navios com a bandeira do Counani. Ele deixou a pseudo-presidência em 1911 e seria supostamente sucedido por Jules Gros Jr, que acabou esquecido. Mas a Republique du Counani há muito era uma ficção
Hoje, Counani é apenas uma lembrança que faz parte da História do atual estado do Amapá, cuja capital Macapá é a única capital brasileira no Hemisfério norte do planeta. Ficaram como lembrança os selos de Counani, pois a filatelia guarda, resgata e ensina. Os selos do Counani se tornaram raridade filatélica; a coleção do Sr. Joaquim Marinho, de Manaus, inclui muitos deles, aqui uma seleção:
Selos de 1893

Selos de 1904



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