A política econômica e a visão geopolítica
dos novos donos do Poder depois do golpe militar de 1964 transpareceram nos
lançamentos de selos. Em outros artigos deste blog já vimos como a prioridade
para as comunicações; a necessidade de integração nacional; a nacionalização da
segurança e a doutrina da Segurança e do Desenvolvimento marcaram presença na
filatelia (1,
2
e 3).
Os selos também marcaram a
continuidade da política
de substituição de importações do período anterior (1946-1964), seu esforço industrializante
e seus gargalos na produção e na exportação.
Nesta série de dois artigos
enfocaremos um segundo capítulo da Ditadura e seu reflexo nos lançamentos de
selos, no que se refere à economia e à geopolítica.
O Choque do Petróleo
O forte crescimento da economia
brasileira de 1968 a 1973 baseava-se, entre outros fatores, em uma conjuntura
internacional favorável. O produto mundial crescia e com ele a procura por
produtos brasileiros. O modelo de industrialização e de transportes adotado
desde antes da Ditadura mas consolidado por esta se fundamentava no uso
extensivo de derivados de petróleo como combustível. A produção nacional de
petróleo era no entanto pouco significante. O país dependia, para continuar
funcionando, de um fluxo de petróleo que era basicamente importado.
Esse ponto fraco evidenciou-se
quando uma confusa conjuntura política no Oriente Médio ocasionou a
quadruplicação dos preços do petróleo no final de 1973. Como a necessidade do
produto era grande, em pouco o país começou a sofrer de dificuldades de
pagamentos externos, ou seja, as vendas externas passaram a ter problemas para
cobrir as compras.
Menor dependência do petróleo
O conjunto de selos Preservação de Recursos Econômicos (1/1976)
marcou, no meio filatélico, o surgimento de uma nova época em que não se podia
mais confiar em um combustível fóssil barato. Com o curioso lema Sabendo usar não vai faltar, os dois
selos enfatizavam a necessidade de economizar energia elétrica e combustível
para os automóveis. Hoje é lugar-comum o pensamento de que é necessário
utilizar sabiamente os recursos naturais, mas na época tais selos tinham
pioneirismo.
O conjunto de selos Alternativas Energéticas (1/1980) apresentou
em síntese as iniciativas e as perspectivas de uma menor dependência do
petróleo presentes na época. Tal conjunto homenageava o álcool, a energia
solar, a energia eólica e a energia hidrelétrica. O governo já incentivava com
o Proálcool tal combustível como substituto da gasolina. As energias solar e
eólica, então pouco desenvolvidas, articulavam-se com a preocupação ecológica
então nascente. E a energia hidrelétrica formava a base da geração elétrica do
país desde os anos 50.
Outra alternativa consistia no desenvolvimento
da extração do carvão nacional, que também foi objeto de incentivos governamentais,
e que foi homenageada no selo Indústria
de Carvão de Pedra (3/1980).
Na sequencia veremos o reflexo de
outras políticas governamentais na filatelia.
Bibliografia:
ABREU, Marcelo de Paiva. A Ordem do Progresso: Cem Anos de
Política Econômica Republicana (1889-1989). 11ª ed. Rio de Janeiro: Campus,
1990. 445p. p295-346.
BECKER, Bertha, e EGLER,
Claudio. Brasil: uma nova potência regional na economia-mundo. 6ª
ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010. 267p. p138-144.